sábado, 29 de agosto de 2009

A última dose

Olá a todos. O escrito a seguir não sei exatamente como se qualificaria. Conto, crônica, relato, na verdade não sei. Só sei que é assim. Imaginei ele de repente, e não sei aonde ele vai chegar enfim...


"Se um dia você estiver andando na pior, pelas ruas escuras a lamentar o fim de um relacionamento, no meio de um parque florido para se esquecer que um ente querido faleceu ou até a beira de uma ponte alta pronta para o salto pois tudo anda dando errado para você, lembre-se. nem tudo são flores na vida humana, e você precisa superar tudo o que acontecer.

O problema vem em como você tenta superar. Você procura seus amigos e eles não o ajudam, muito ao contrário, parecem rir do sua cara. E então você sai a caça de novos amigos. E você acha que os achou. E a sua cura estava ali na sua frente, em um copo. Mas a cura tinha um efeito temporário. Quando você perceber, os pensamentos ruins voltam a sua cabeça, e você esta em uma cama desconhecida com uma pessoa desconhecida ao seu lado. E nem se lembra como estava ali.

Mas lentamente você acha que aquela seria a cura, e cada vez mais você a usa. O problema que o copo vira um charuto. O charuto vira uma pílula. A pílula se transforma em um pó. E aí começa o fundo do poço. Seus amigos antigos não olham mais na sua cara, mas você já esta pouco se fudendo para eles, pois eles te ignoraram no primeiro momento. A família cada vez mais desesperada tenta te ajudar, mas você acha que é tarde demais para que eles façam alguma coisa. E os seus novos amigos? Eles te acompanham em tudo. Nas noites, nos furtos, na perda de peso, enfim, a vida é bela durante algumas horas entorpecido.

Durante os poucos momentos de razão você acha que não tem jeito de piorar sua situação. Mas você errou, para variar. Seu novo melhor amigo diz que achou algo muito bacana. Minha papoula da Índia, minha flor da Tailândia, és o que tenho de suave. E me fazes tão mal? E nessa montanha mágica você vai levando a vida. O cold turkey agora é o seu maior mal. Você não se lembra mais do por que que você andava triste, sua vida é destinada a ter outra âmpola. E começa a fazer coisas que nunca faria. Quando você vê, o banheiro público está sujo, e espelho quebrado ao meio, e sua face esta irreconhecível. Tem uma lágrima em sua face, e você olha para os lados ver se existe algum amigo ali. Mas não existe mais. Um está preso, o outro teve uma overdose e o outro morreu em um tiroteio.

E a injeção é dura. Suas veias estão duras. Seu olhar já esta petrificado. Começa a andar pela rua a procura de alguém, mas todos fogem de você. Ainda anda pela frente da sua antiga casa, mas acha que eles nem devem lembrar de você. Você senta em frente a casa e lembra de uma antiga canção que se cantava durante os natais, todos juntos. E daqueles presentes, e o mais difícil, dos sorrisos. Mas você não tem coragem de voltar atrás. E nem pode. Um beco escuro é o seu destino. E o dia seguinte será a mesma coisa. E não mudará tão cedo.

Talvez você volte a andar pelas ruas escuras, ou pelos parques floridos. Até a beira da ponte alta pode parecer algo melhor que a sua situação. Mas eles ficam longe de sua cura. Após outros dias você se vê em frente a aquele espelho quebrado, com uma âmpola na mão. O problema que você erra a dose desta vez. A sua última dose é maravilhosa! E o seu corpo cai estirado lá, naquele chão cheio de fezes e urina.

E a escuridão chega maliciosamente. E de repente volta a luz. Você enxerga um copo, o seu primeiro copo. O sorriso volta a sua testa e você recusa este copo. A sua caminhada pera fora do lugar é longa, mas tudo bem. A segunda chance não deve ser desperdiçada. Você tenta conversar com a amada e o relacionamento retorna. Sua família toda unida para celebrar o ente querido que se foi. E seu chefe te aceita de novo no emprego. E não eram risos, e sim tentativas de alegrar dos seus amigos.


E assim você volta a ter o sorriso na face, longe de tudos os males. Quem precisa de uma última dose?"


Assim encerro este post da madrugada de sexta para sábado. Achei deveras interessante fazer algo do tipo. Ajuda a aliviar um pouco a tensão colocando ela num pc. E vocês, Ò, leitores, o que acharam?


LMN, Droog's sentence:"Existe um descontrole, que corrompe e cresce
Pode até ser, mas estou pronto para mais uma
O que é que desvirtua e ensina?
O que fizemos de nossas próprias vidas?"

2 comentários:

The Extreme disse...

Nossa cara, post muito bom.
Nem vou comentar, não acho que tenha algo a comentar

méuri disse...

Boa, Droog (:
[demorei pacas, mas li!]

Li do início ao fim, sem pausa pra respirar nem nada.

Mas eu temo que seja verdade muito do que você disse, e que essas coisas sejam mesmo completamente fora do nosso controle. mas quem sabe?

Lembrei-me também de um poema de não-sei-quem, que diz que a felicidade é uma árvore de dourados pomos que sempre pomos onde não estamos. E é exatamente isso que o cara do texto faz e o que todos nós fazemos.