sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Last Saturday

O sol bate no rosto. Já é hora de levantar, sem dúvidas. O revolver do estômago remete às últimas horas, regadas a bebidas baratas e som de barzinho. Coloca a mão na cabeça, o teto ainda gira. Não sabe o porquê, mas levanta e enche mais uma vez a taça. Começar a beber antes das 10 da manhã é alcoolismo, mas continuar não.

O vinho, barato e doce, amanheceu na mesa. Não se pode dizer que está quente, mas não guarda mais o frescor, talvez sua única vantagem, além da capacidade de entorpecer rapidamente. Em um gole, termina a tortura e decide comer alguma coisa, mas só tem pão mofado e biscoitos murchos. Sai para a varanda, o cachorro late em coro com os pássaros. É atacado por uma nuvem de siriricas assustadas. Tenta, indolentemente, espantá-las com as mãos descoordenadas.

Uma lembrança vaga da noite anterior lhe vem como um soco, ou melhor, um tapa na cara, que dói mais no orgulho que no corpo. A razão da bebedeira passou por seus olhos naquele instante. A dor que o preenche toda noite solitária, o desviar de olhos. A perda da razão de se viver, ou a nunca existência de uma, não sabe ao certo. A mesma mão de chumbo que o perseguira sua vida toda volta a comprimir seu coração, até um ponto que não suporta mais. Repousou a taça vazia na primeira superfície que pôde, e não tornou a enchê-la. Virou o restante no gargalo mesmo, e resolveu dormir até o sol se pôr.

Nenhum comentário: