Recentemente assisti a um filme espetacular. Triste, mas espetacular. “The Mudge Boy” (O Garoto Mudge, em tradução livre e óbvia). Nele, o personagem principal sofre muito na sociedade interiorana (e provinciana, no sentido mais depreciativo da palavra) na qual vive. E a maior causa de seu sofrimento é por a sociedade não identificar nele um respaldo cognitivo de suas atitudes. Trocando em miúdos, o menino era imprevisível. Livre. Um freak.
Peço desculpas aos linguistas, que se arrepiam à mera menção de um estrangeirismo, mas não consigo encontrar palavra em português que defina exatamente o significado de freak. Pois um freak é aquele diferente, uma pessoa livre, que não se prende às rédeas da sociedade, que não dá satisfações de suas atitudes, nem se preocupa com o que pensarão dele.
Apesar de não me considerar (quem me dera!) um pertencente a essa peculiar e mentalmente privilegiada elite, sou considerado por muitos como tal. Principalmente por me advir também de um lugar deveras interiorano, tradicionalíssimo, onde ainda existe a figura das carpideiras. Onde os contratos ainda são feitos a fio de barba. Em tal lugar, um jovem rapaz (sem dúvidas como uma maneira de rebeldia) se prende a livros e músicas. Se interessa por teologia, enfrentando as crendices e superstições arraigadas até o cerne. Fala de fantasias, e mundos longínquos, e criaturas espetaculares. Fala de lugares distantes, que a maioria nunca ouviu falar. Sabe perguntar e responder, muitas vezes embaraçando adultos e sua verdade inabalável, e sua posição “superior”...
É em um mundo como esse, quase inimaginável para o cidadão que não tenha vivenciado tais atos, que eu vivi quase dez anos. E durante uma década nunca me senti enquadrado, nem incluído em nenhum grupo, onde quer que fosse, pois sempre fui visto como “o freak”, mesmo que ainda não tenha sido usado esse vocabulário.
Mas eu me orgulho de ser taxado como freak. O freak pode fazer o que quer. Só é limitado por suas leis, que independem de regras morais de boa educação. O freak segue seus sentimentos. O freak é o único verdadeiramente autêntico. Infelizmente, mesmo a sociedade das grandes capitais ainda não consegue aceitar completamente o freak. Não há comparação com o interior, mas ainda assim há espaço para melhorias.
Mesmo sendo essa raça uma das evoluções da sociedade, o seu destino ainda é triste. Parte deles fraqueja em sua independência e sucumbe às pressões sociais, achando a solução mais fácil: o consolo de quase dois metros de terra por sobre si. O restante é, na maioria das vezes, fadado a vagar sozinho pela vida.
Infelizmente não sou um freak. Sou apenas um Paladino hipócrita. Um Pierrot, lamentando sua sorte. Mas isso não me impede de tentar me tornar um.
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