Este Blog já foi símbolo da Revolução Russa, do Golpe Militar de 64, e talvez de algum Anime festival. Hoje ele é uma exposição de textos soltos, a fim de entreter leitores, sem fins lucrativos, apesar de serem aceitas doações. Espero que se sintam em casa, e façam como eu, leia bebendo um café recém passado. Afinal, acomode-se, pois bons textos não devem ser lidos as pressas, e sim apreciados.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Die Erwartungen
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Freak
Recentemente assisti a um filme espetacular. Triste, mas espetacular. “The Mudge Boy” (O Garoto Mudge, em tradução livre e óbvia). Nele, o personagem principal sofre muito na sociedade interiorana (e provinciana, no sentido mais depreciativo da palavra) na qual vive. E a maior causa de seu sofrimento é por a sociedade não identificar nele um respaldo cognitivo de suas atitudes. Trocando em miúdos, o menino era imprevisível. Livre. Um freak.
Peço desculpas aos linguistas, que se arrepiam à mera menção de um estrangeirismo, mas não consigo encontrar palavra em português que defina exatamente o significado de freak. Pois um freak é aquele diferente, uma pessoa livre, que não se prende às rédeas da sociedade, que não dá satisfações de suas atitudes, nem se preocupa com o que pensarão dele.
Apesar de não me considerar (quem me dera!) um pertencente a essa peculiar e mentalmente privilegiada elite, sou considerado por muitos como tal. Principalmente por me advir também de um lugar deveras interiorano, tradicionalíssimo, onde ainda existe a figura das carpideiras. Onde os contratos ainda são feitos a fio de barba. Em tal lugar, um jovem rapaz (sem dúvidas como uma maneira de rebeldia) se prende a livros e músicas. Se interessa por teologia, enfrentando as crendices e superstições arraigadas até o cerne. Fala de fantasias, e mundos longínquos, e criaturas espetaculares. Fala de lugares distantes, que a maioria nunca ouviu falar. Sabe perguntar e responder, muitas vezes embaraçando adultos e sua verdade inabalável, e sua posição “superior”...
É em um mundo como esse, quase inimaginável para o cidadão que não tenha vivenciado tais atos, que eu vivi quase dez anos. E durante uma década nunca me senti enquadrado, nem incluído em nenhum grupo, onde quer que fosse, pois sempre fui visto como “o freak”, mesmo que ainda não tenha sido usado esse vocabulário.
Mas eu me orgulho de ser taxado como freak. O freak pode fazer o que quer. Só é limitado por suas leis, que independem de regras morais de boa educação. O freak segue seus sentimentos. O freak é o único verdadeiramente autêntico. Infelizmente, mesmo a sociedade das grandes capitais ainda não consegue aceitar completamente o freak. Não há comparação com o interior, mas ainda assim há espaço para melhorias.
Mesmo sendo essa raça uma das evoluções da sociedade, o seu destino ainda é triste. Parte deles fraqueja em sua independência e sucumbe às pressões sociais, achando a solução mais fácil: o consolo de quase dois metros de terra por sobre si. O restante é, na maioria das vezes, fadado a vagar sozinho pela vida.
Infelizmente não sou um freak. Sou apenas um Paladino hipócrita. Um Pierrot, lamentando sua sorte. Mas isso não me impede de tentar me tornar um.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Last Saturday
O sol bate no rosto. Já é hora de levantar, sem dúvidas. O revolver do estômago remete às últimas horas, regadas a bebidas baratas e som de barzinho. Coloca a mão na cabeça, o teto ainda gira. Não sabe o porquê, mas levanta e enche mais uma vez a taça. Começar a beber antes das 10 da manhã é alcoolismo, mas continuar não.
O vinho, barato e doce, amanheceu na mesa. Não se pode dizer que está quente, mas não guarda mais o frescor, talvez sua única vantagem, além da capacidade de entorpecer rapidamente. Em um gole, termina a tortura e decide comer alguma coisa, mas só tem pão mofado e biscoitos murchos. Sai para a varanda, o cachorro late em coro com os pássaros. É atacado por uma nuvem de siriricas assustadas. Tenta, indolentemente, espantá-las com as mãos descoordenadas.
Uma lembrança vaga da noite anterior lhe vem como um soco, ou melhor, um tapa na cara, que dói mais no orgulho que no corpo. A razão da bebedeira passou por seus olhos naquele instante. A dor que o preenche toda noite solitária, o desviar de olhos. A perda da razão de se viver, ou a nunca existência de uma, não sabe ao certo. A mesma mão de chumbo que o perseguira sua vida toda volta a comprimir seu coração, até um ponto que não suporta mais. Repousou a taça vazia na primeira superfície que pôde, e não tornou a enchê-la. Virou o restante no gargalo mesmo, e resolveu dormir até o sol se pôr.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Was ist besser?
Todo ser humano nasce com um enorme buraco no peito, e tece toda a sua vida em torno de preenchê-lo. Alguns o preenchem com religião, outros preenchem com coisas compradas, ainda alguns preenchem com outras pessoas. Alguns preenchem com álcool, drogas, e em casos mais graves, com Restart.
Os psicólogos dirão que é a sensação de falta que o Id nos causa. Os tolos dirão que são as coisas que nos definem. Os politizados dirão que é a falta de um ideal político, uma ideologia. Os poetas dirão que... Os poetas não dirão nada, pois estão ocupados demais preenchendo o buraco com amores platônicos absurdos.
Acontece que o tamanho do buraco não é regular. Enquanto alguns conseguem de alguma forma preenchê-lo, outros passam a vida inteira sem esse sentimento de completude. Tentam, mas tudo parece pequeno, ou disforme demais.
E a pior sensação que podemos experimentar é o vazio. É sentimento, ou melhor, a falta de qualquer sentimento, que nos faz vagar pelas ruas à noite sem ódio nem amor. Sem esperança ou desilusão. É a sensação de que nada tem sentido, de que tudo está do avesso. Pessoas fazem loucuras por amor ou ódio, fanatismo ou ceticismo, e você não entende o porquê. A sensação de incompletude é insuportável. O sentimento de não ter mais razão de lutar, não ter mais motivos para viver. Esse vazio me assombra, às vezes.
Uma vez um grande amigo meu criou uma rima, que era mais ou menos assim:
Was ist besser: Wegen Liebe zu leiden
Oder ein trockenes Herz zu haben?
(Em português perde a rima e metade da graça, mas é mais ou menos como O que é melhor: Sofrer por amor/ Ou ter um coração seco?)
Eu, que nessas curtas décadas de vida já visitei o céu e o inferno, já estive dos dois lados da cerca, tenho a resposta. E quem já passou pelos dois casos concorda comigo.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
And again, and again, and...
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Culto ao ódio
domingo, 9 de outubro de 2011
Humenidade
O ser humano é um animal incrível. Não no sentido de maravilhoso, mas sim no sentido de que não podemos crer nas atitudes que tomam. É naturalmente egocêntrico, e se prende a padrões construídos socialmente como se fossem ditados pela própria natureza, ou o que costumam chamar de Deus.
Nós forjamos nossas próprias virtudes, a fim de tornar pelo menos suportável o convívio com nós mesmos. Fazemo-nos acreditar que existe bondade, que alguém se importa com o outro. Já dizia o filósofo que o ser humano é dotado de uma generosidade restrita, que se limita pelo seu próprio interesse. Portanto, seus pais se preocupam com vocês não porque gostam de vocês, caros leitores. A verdade é que seus pais cuidam de vocês porque se vocês estiverem mal, eles também se sentirão mal. No fim das contas, eles só estão cuidando da própria felicidade. E assim somos todos nós, não damos a mínima pra ninguém que não seja nós mesmos.
Alguns dirão “Tresloucado amigo, não concordo com meia letra do que disseste”, sem saber que a própria atitude de crítica nada mais é do que uma forma de desmoronar aquilo que te incomoda, ou seja, um método para garantir a própria felicidade, sustentando o meu ponto de vista.
Mas não importa. Nada mais importa. Não sou um arauto, não sou um profeta. O que eu escrevo não tem a força midiática, nem tem o poder de se fazer coagir. São apenas letras tortas de uma mente perturbada. E assim desbravo as noites escuras, de espada em punho e um crucifixo no pescoço, caçando moinhos de vento.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Beneath the table
Esse pequeno texto escrevi no isolamento de uma roça nesse fim de semana. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Desculpem meu parco inglês: Qualquer erro, sintam-se à vontade para corrigir.
"A smile, a whisper... The foot gently caresses the leg. Straightens the glasses, and a twinkle. The message was received. The fingers massaging over the socks, the climate is warming, and the game continues. Looks, blinks, and the massage beneath the table. A card, a fondling, and inadvertently touches some private parts. A chill, and it all begins again.
An unsuspecting hand searches a forbidden track. Words are spoken in vain, always with uppercase interlineations. The game must go on. The cards are dealt, and more looks, and more twinkles, some more meaningful than others.
The guiding hand takes the other one’s. A fondling, a massage, a smile, a whisper. It’s forbidden, it’s in public, no one should never know about that. The stars are getting closer. It’s moving, repeatedly, constant, no interruption... The stars are coming, coming, cumming...
The more time passes by, the more it gets far from reality and the more it looks like a dream. The glasses straightening, the socks massage, that pure smile full of malice... No such things are real, it was just a phrenitis... The best I’ve ever had."