Cai a chuva. Agora uma chuva leve, quase garoa. As pequenas
gotas tocam o rosto, e escorrem pela pele. Ao redor das luzes dos postes, um
halo avermelhado que se reproduz nas poças no chão. Luzes estas, que de tão
sutis, desaparecem ao menor obstáculo. O barulho dos passos no asfalto molhado –
com um sapato mais molhado ainda - ecoa pela rua vazia. O barulho longínquo de trânsito
pode ser ouvido, mais nada.
E ele aprecia a chuva. Sente a cada gota o toque macio e
gélido da donzela pluvial, e deseja com todas as suas forças que as gotas que
escorrem levem todo o seu sentimento. Com as roupas encharcadas e o corpo doendo,
de nada servia a sensação de abandono que – ironicamente – não o deixava nunca.
Em seus pensamentos vagantes e sombrios, cisma sobre seus
amigos, ou pelo menos aqueles que assim ele se referia. Não consegue evitar em
cogitar que nunca tivera amigos de fato, apenas pessoas que o aturaram durante certo
intervalo de tempo. Acontece que, para alguns, esse tempo se esgotou, restando
apenas uma lembrança vaga e insípida do que havia.
Basta. Nem mais um pensamento nesse sentido. Passou a mão
pelo rosto, expulsando as gotas – salgadas ou não – que persistiam em rolar
livremente pela face. A chuva aumentara. Mas quando se é Paladino, a noite nunca é escura demais. Então
que a espada não enferruje na bainha, mas que não seja guardada sem ter agido.
E que venham os gigantes!
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